A Récita do 1º de Dezembro
"Os festejos do 1.º de Dezembro na cidade de Braga, surgem, não no dia um de Dezembro, mas sim, no dia quatro do referido mês. Após o derrube da Duquesa de Mântua e a proclamação de D. João IV, Duque de Bragança, como rei; são expedidos de Lisboa para as restantes zonas do país a resolução da capital para que dessa forma, haja um acatamento geral das populações.
Em Braga, a notícia chega no dia quatro de Dezembro de 1640. Nesse dia, a classe estudantil bracarense toma as ruas da cidade, antes mesmo do Senado bracarense tomar a sua decisão final, que só viria acontecer no dia 11 de Dezembro.
No dia quatro, com todo o entusiasmo: “Forão os estudantes os primeiros, os quaes com aprazimento, e ordem de seus Mestres repicando-se o Relogio, e mais sinos do Collegio da Companhia de JESU (sic), e logo os da Sé correrão as ruas dando vivas, e aclamando a sua Magestade…”
Esta tradição surge com os estudantes do Colégio de São Paulo, sendo interrompida em 1759 pelo Marquês de Pombal e a expulsão dos jesuítas. Com os anos, o evento foi sofrendo mutações, perdendo participantes ou até mesmo, visibilidade na cidade, mas coube sempre aos estudantes, não deixar que a celebração caí-se no esquecimento, como nos recorda o jornal Comércio do Minho de um de Dezembro de 1896 “se não fossem elles, os rapazes, o dia de hoje passaria quasi desapercebido em Braga. As manifestações officiaes estão redusidas á côrte e a uma ou outra cidade mais importante,… No resto do paiz, esta data nem é recordada. Braga, porém, protesta contra esta lethargia…”.
Durante a década de trinta e quarenta, para celebrar tão importante data, os estudantes pela manhã envergavam capa e batina e realizavam um cortejo no centro da cidade, à tarde, atiravam as capas às janelas das “donairosas damas bracarenses” e à noite, no Theatro Circo, dava-se a Récita. A abertura do espectáculo estava nas mãos da Tuna Académica a interpretar o Hino da Restauração, um discurso do Presidente da Academia e após isso, cantava-se o Hino Académico e havia um programa de números de vários autores.
Em 1998, surge-nos um testemunho relevante sobre a data, Pedro Bastos refere que “viviam-se os anos do renascer e recriar de tradições na Universidade do Minho, e tudo o que cheirasse a boa desculpa para enfiar um tricórnio na cabeça, traçar uma capa e ouvir umas tunas era de imediato aproveitado ao máximo”.
Este texto foi escrito com base nos testemunhos do livro Tradições Académicas de Braga, aconselha-se a leitura da obra para quem se quiser aprofundar no tema." DIAS, Bruno. (2022)
Por isso, amanhã, enverguem o traje, desloquem-se até ao Theatro Circo e aproveitem a sessão cultural que é a Récita. Orgulhem-se de ser estudantes e do peso colocado sobre os nossos ombros por parte dos heróis de 1640.
Saudações Académicas,
O Papa da Academia Minhota,
Tomás Ornelas
(Galvanium I)
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